segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Interminável

Difícil lutar no
acolchoado tempo
Luar no livro vento
Habitar o eterno momento
de suspensão no

ar

quarta-feira, 23 de novembro de 2016


Na boca do estômago
Canto
Regurgito


No rastro do assobio
Voo
Vampirizo


No meio do caminho
Paro
Admito


No último vagão
Mexo
Equilibro


No fundo do armário
Entro
Recomeço

Daqui, tudo é possível
Inclusive, , ,
esqueci o verso

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Cilene vive
Cilene ri
Cilene chora
Cilene evoca a ancestralidade
as palavras negras de mulher - de mãe Obassy
Cilene educa
não só na escola
cuida das crianças
cada uma é filha
mesmo que não sua
amadas sobrinhas
um presente: a netinha...

Cilene tem um grande coração
sente muito todos os tiros
que vêm na contramão
Quer salvar o mundo
e salvou
no batuque que parou
agora, essa manhã
levando seu suspiro
para os braços de Nanã

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

"Vem, Vicente!"

Brooom.... Brooom... Esse é o meu som. Meu ou de mamãe? Não importa, ainda não. Um ronco, durmo...nesse céu ainda bruto. Tudo escuro, todo branco. Só sei ver imaginando.

Água quentinha que me envolve, massageia, acolhe. Só sinto às vezes um pouquinho de pressão. Pego num cordão. Seguro: pra isso serve a mão. Solto, aponto. Me encolho no meu canto.

Conheço essa canção! Ninar, nana neném. Mas essa música... essa voz. É flauta doce, é linguagem que ainda não compreendo. Mas é sempre uma delícia! Cala fundo aqui dentro.

Tum tum, tum tum, o que é isso? É o tempo? Em cada instante me multiplico: não sei medir, só sei que vivo. Chupo o dedo, se dedo for – isso dobrado é o quê? Que calor!

Chutando esta bolha, quero saber até onde vou. Até onde sou? Pé é de carinho, não chuta com força. Até que... tal força aparece! E agora? Meu movimento só obedece.

Glup... chuá! Ela vem de vez em quando, um barulhão... que me pressiona. Um estouro: de desaguar.

Agora vem mais, parece urgente! Não sei doer. Mas é essa fortaleza, da qual sou gente. De cambalhota, mergulho a cabeça, não sei o que vai vir. Deve ser mais de mim por aí...

Ar... Ar! Ar... ai! Vou chorar! Esse frio queima, arde, parece que o resto de mim é bem mais que minha primeira metade. Agora não estou mais lá dentro, não sou mais água, sou seco, grudento, berro. Sinto um vento invisível que chicoteia, mas estranhamente também sinto um macio, um brilho num ponto cego. Parece que estou aprendendo a doer, finalmente! Respiro.

− Vem, meu amor, já conseguiu sair de meu ventre! Entre agora neste mundo vivo: bem-vindo, seu nome é Vicente!

domingo, 14 de agosto de 2016

Aurora


Tanta coisa quer ser dita
debaixo do teu nariz
Tanta folha seca
caída
sem seiva da raiz

Se quiser que brote a vida
Ouve uma voz que te chama

Aduba-me, molha! É da terra pobre
que vem toda essa lama, mas também
Poderão vir os frutos que te alimentam
Cuidando como Aurora
reanima o Sol rebento


#rascunho

Tanta coisa pra ser dita
e não diz
Tanta folha caída
seca
sem seiva
da raiz

O que fazer pra dar
o milagre da vida?
No altar
Sem terra sigo lama
alma derretida
Ateando fogo
no pomar

Quem quiser a erva fina
me aduba, me molha
Colhe os frutos
encolhidos
Tem seu filho concedido
no vislumbrar do Céu, do seu
amor
que me olha
Ora

Alvo-
rar
Altar-
ora
Autora
Aurora

segunda-feira, 27 de junho de 2016

metida a escritora



Deusas, Mãe Terra, Sagrado feminino? Sim, posso dizer que tudo aqui é um pouco inspirado no resgaste dessa natureza espiritual tão desvalorizada no mundo patriarcal lógico, violento e objetivo, capitalista. E seria possível fazer esse resgate fingindo que não tenho traumas, dores, dores, rancor, vingança, orgulho, inveja? As sombras provam que existe o Sol, nossa lama é morte e gera vida, quando separamos o orgânico do industrial, quando adubamos nosso solo. Meu objetivo aqui nunca foi e nem será chegar a um estágio de evolução ou de New Age "gratidão". Vai ter raiva SIM, vai ter autoconhecimento SIM, vai ter lixo e reciclagem SIM. Se for para resumir essa obra inconsciente que é a poesia em um objetivo, seria isso mesmo de trazer a escuridão para a consciência, como na citação de Jung que tava no outro blog que li em janeiro, 
‘A pessoa não se torna iluminada por imaginar figuras de luz, mas por trazer a escuridão para a consciência.’ 
Se um dia isso virar uma obra, se um dia houver leitores ou leitoras, talvez um prefácio deveria pedir a se despirem de seus falsos desejos e personas, de seus copia e cola de mantras. Aqui é a porta da escuridão das entranhas vaginais de uma mulher. Aqui sou eu, um pouco. Aqui pode cheirar e, dependendo da sua percepção, feder. E pode ser muito, pode ser um pouco de você.

"Me dê tua profundidade.

Você é amor e luz E TAMBÉM uma escuridão imensurável."

Prefácio ou "tchaufácio", não sei, a gente fica assim depois de tanto feliz aniversário, ou a gente quer um tanto de luto e triste morte a celebrar também, ou pode ser simbólico mesmo e um novo ano, ou pode ser a autora se achando, ou sonhando, que vai haver um dia a materialidade do cheirinho de árvore que não é mais árvore... que não é nada romântico, que pode ser contra o que acreditamos... o que será




deixo em branco (verde).









quinta-feira, 23 de junho de 2016

Saindo da fumaça

Como dar o primeiro passo?
Mulas sem cabeça
não correm
que nem cavalos

Como ir sem retroceder
Rê    rê    rê     rê
retrô
cadê
você

"Eu duro pouco.
Não quero mais
Sou mole, escorro"
Socorro!
cadê
meus pais

Vai viver
Sem dó, nem mi
Faz favor
Se tira da qui

ANDE! me deixem
respirar
Água com fogo não dá vida
quero minha terra
com bastante ar

quinta-feira, 10 de março de 2016

"O caminho lento aumenta sua coragem secreta - e de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda! O sal, o iodo, tudo líquido deixam-na por uns instantes cega, toda escorrendo - espantada de pé, fertilizada.
Agora que o corpo todo está molhado e dos cabelos escorre água, agora o frio se transforma em frígido. Avançando, ela abre as águas do mundo pelo meio. Já não precisa de coragem, agora já é antiga no ritual retomado que abandonara há milênios. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar, e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol quase imediatamente já estão se endurecendo de sal. Com a concha das mãos e com a altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias de água, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo.
E era isso que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem"
(Clarisse Lispector: Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Velhaidade

A carcaça de caranguejo
Não me serve pra nada
Eu quero seu leve suave peso
Pra cima de meu peito
Me cai, me aperta, contrai
fechando meu buraco negro.

É livre o leve peso
É grave o lábio espesso
Gravidade
Novidade velhidade
Arranca esse cabelo

Me deixa dar socos na carne
Movimentar, mão soca, dançar
Enquanto libero todo o peso da água
Aqui dentro

Derr amar:
água salgada
Água parada, acumulada
De Nanã
Ê uá
Ê uá êuaê...

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Arco-íris

Um dia sonhei com a construção de um arco-íris tecnológico: cada cor explicada encerrava um mito, enquanto ressaltava as mãos de um trabalhador. O arco-íris era artificial, e tinha tanta graça quanto o mitológico/natural.

Desapego

Sua autocensura
daquela vez não lhe foi
suficiente.
A analista não sou eu
mas intuição não mente:
Desejo de roubar
de provocar
Fantasia da inveja
de admirar consequente

Ao não querer tal "heresia"
tão forte não pôde evitar
A solução a mim transferida
no inconsciente de tomar
minha suposta indiferença enquanto troca,
em aparência, a inveja de papel
Pra um riso de vitória e limpa consciência
lhe acarretar um dia algum troféu

Trata-se de uma traição velada
e não pude permanecer ausente
Não sou imune às energias
E não o é nenhuma gente.
Subiram-me ao ego
ameaças
o que não me faz inocente.

Convenhamos,
em que pese seres tão complexos
não existe "sem-querer"
não há vilões
Nem um eu
melhor que você.

Aceitemos a sombra e luz
Somos alma, matéria.
Chega de negar
sentimentos vis
Ou só mais adoeceremos
e sempre mal
"sem-querer"
faremos
a quem admiramos, a quem já amamos
mais ou menos