Brooom.... Brooom... Esse é o meu som. Meu ou de mamãe? Não importa, ainda não. Um ronco, durmo...nesse céu ainda bruto. Tudo escuro, todo branco. Só sei ver imaginando.
Água quentinha que me envolve, massageia, acolhe. Só sinto às vezes um pouquinho de pressão. Pego num cordão. Seguro: pra isso serve a mão. Solto, aponto. Me encolho no meu canto.
Conheço essa canção! Ninar, nana neném. Mas essa música... essa voz. É flauta doce, é linguagem que ainda não compreendo. Mas é sempre uma delícia! Cala fundo aqui dentro.
Tum tum, tum tum, o que é isso? É o tempo? Em cada instante me multiplico: não sei medir, só sei que vivo. Chupo o dedo, se dedo for – isso dobrado é o quê? Que calor!
Chutando esta bolha, quero saber até onde vou. Até onde sou? Pé é de carinho, não chuta com força. Até que... tal força aparece! E agora? Meu movimento só obedece.
Glup... chuá! Ela vem de vez em quando, um barulhão... que me pressiona. Um estouro: de desaguar.
Agora vem mais, parece urgente! Não sei doer. Mas é essa fortaleza, da qual sou gente. De cambalhota, mergulho a cabeça, não sei o que vai vir. Deve ser mais de mim por aí...
Ar... Ar! Ar...
ai! Vou chorar! Esse frio queima, arde, parece que o resto de mim é bem mais que minha primeira metade. Agora não estou mais lá dentro, não sou mais água, sou seco, grudento, berro. Sinto um vento invisível que chicoteia, mas estranhamente também sinto um macio, um brilho num ponto cego. Parece que estou aprendendo a doer, finalmente! Respiro.
− Vem, meu amor, já conseguiu sair de meu ventre! Entre agora neste mundo vivo: bem-vindo, seu nome é Vicente!