Hoje
poderia ter sido todo dia. Dia de repetir, na mesma esquina: "vinte e quatro
pregador, dois real"...
não por delírio, mas por ter que viver.
Hoje andamos em fluxo, fluxo que se direciona todos os dias, nos mesmos
horários, à prisão de um recipiente. Fluxo que não desagua, ignora as
águas da Guanabara, e apenas desembarca do outro lado, como sempre.
Mas hoje simplesmente percebemos tudo com espanto. E percebemos, com
encanto, que a noite é o tempo mais humano de um homem diurno, é tempo
livre, em que vale tudo o que não teria valor.
Em que vale a poesia
Fazer amor contigo
não é espelhar teu corpo nu
no vítreo do meu
espaço
não é sentir-me possuída
ou possuir-te.
É ir buscar-te
ao
abismo de milênios de existência
e trazer-te livre.*
Em que
valem vozes cantando juntas
Será que é tempo que lhe falta pra
perceber? Será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber? A
vida é tão rara, tão rara.**
Só por isso, humildemente, desejo o hoje compartilhar.
(em companhia de Cathe Lira, Victor Guedes e Celso Eugênio, pelas pequenas viagens do cotidiano niteroiense até as noites cariocas.)
* Posse Intemporal, de Manuela Amaral
** Paciência, de Lenine
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