quarta-feira, 5 de junho de 2013

Encanto e Espanto

Hoje poderia ter sido todo dia. Dia de repetir, na mesma esquina: "vinte e quatro pregador, dois real"...
não por delírio, mas por ter que viver.


Hoje andamos em fluxo, fluxo que se direciona todos os dias, nos mesmos horários, à prisão de um recipiente. Fluxo que não desagua, ignora as águas da Guanabara, e apenas desembarca do outro lado, como sempre.

Mas hoje simplesmente percebemos tudo com espanto. E percebemos, com encanto, que a noite é o tempo mais humano de um homem diurno, é tempo livre, em que vale tudo o que não teria valor.
 

Em que vale a poesia
Fazer amor contigo
não é espelhar teu corpo nu
no vítreo do meu espaço
não é sentir-me possuída
ou possuir-te. 
É ir buscar-te
ao abismo de milênios de existência
e trazer-te livre.*

Em que valem vozes cantando juntas

Será que é tempo que lhe falta pra perceber? Será que temos esse tempo pra perder? E quem quer saber? A vida é tão rara, tão rara.**
 
Só por isso, humildemente, desejo o hoje compartilhar.




(em companhia de Cathe Lira, Victor Guedes e Celso Eugênio, pelas pequenas viagens do cotidiano niteroiense até as noites cariocas.)



* Posse Intemporal, de Manuela Amaral 
** Paciência, de Lenine