terça-feira, 22 de abril de 2014

17 de abril

A Pedagogia dos Aços

(Pedro Tierra)

Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajas

A pedagogia do aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia

Há cem anos
Canudos,
Contestado
Caldeirão

A pedagogia dos aços
golpeia no corpo
essa atroz geografia ...

Há uma nação de homens
excluídos da nação.
Há uma nação de homens
excluídos da vida.
Há uma nação de homens
calados,
excluídos de toda palavra.
Há uma nação de homens
combatendo depois das cercas.
Há uma nação de homens
sem rosto,
soterrado na lama,
sem nome
soterrado pelo silêncio.

Eles rondam o arame
das cercas
alumiados pela fogueira
dos acampamentos.

Eles rondam o muro das leis
e ataram no peito
uma bomba que pulsa:
o sonho da terra livre.

O sonho vale uma vida?
Não sei. Mas aprendi
da escassa vida que gastei:
a morte não sonha.

A vida vale tão pouco
do lado de fora da cerca ...

A terra vale um sonho?
A terra vale infinitas
reservas de crueldade,
do lado de dentro da cerca.

Hoje, o silêncio
pesa como os olhos de uma criança
depois da fuzilaria.

Candelária,
Carandirú,
Corumbiara,
Eldorado dos Carajás não cabem
na frágil vasilha das palavras

Se calarmos,
as pedras gritarão...

terça-feira, 8 de abril de 2014

Cordel das boas-vindas

Vem, venha
Vai, voa...
Mas volte.
Que poesia é sempre boa.


::apresentando agora Luna Vitrolira, pernambuca do grupo São Saruê:


Aos prazeres

Todo pôr do sol traz teu cheiro...
faz meu peito de amante sorrir...
Eu sempre vou me despedir
do mundo inteiro primeiro
pra depois ganhar beijos teus
e sem querer dizer adeus
fartar-me em teu curto abraço.
O meu prazer é clandestino,
mas quero dizer-te menino
que quando olhas, me desfaço.

Eu tenho alguns poucos receios,
pois meu coração não é casto
e, por isto, às vezes, me afasto:
por respeito ao amor alheio,
mas te espio discretamente
e sempre disfarçadamente
o peito bate descompassado.
E aí aparece a razão
Pra controlar o coração,
dizendo que estais no passado.

eu não me furto a natureza,
mas calo frente ao meu impulso
- pois que se descontrola o pulso -
eu não resisto a tua beleza.
Eu adoro te ver sorrindo
e ainda continuo fingindo
que os meus desejos se castram,
mas mesmo que se calem os lábios
os nossos sentidos são sábios
os olhares sempre se falam.

A tua presença é perigosa
vejo que gostas de incitar
com palavra “maliciosa”,
Mas adoro teu provocar
e sem pressa e com paciência
sou obrigada a pôr reticência
e admitir a verdade crua:
que o pensamento vai aos ares
me desconcertam teus olhares;
sou réu confesso e presa tua.

tudo que começa tem fim
- disso tem-se consciência -
por isso sempre digo sim
pra ver o que quero em essência.
Nem tudo nasce para o eterno,
o fugaz é belo e terno.
Meu carinho tem sinceridade.
Preto, eu te deixo marcado
nesse universo ritmado
oferecendo honestidade.

Não hei de temer arrodeio
muito menos temer saudades.
Rio... pelo efêmero passeio
e por minhas ébrias vontades.
Sem medo de parecer louca
canto amor até ficar rouca
eu danço pela tempestade,
porque se ignoro o desejo
morre no tempo nosso beijo
só porque não se fez verdade.

Não tenho medo nem se espante
é só encanto, admiração
e carinho d’um ser errante
que te faz versos com paixão.
Todo amor é livre e sagrado
não deve ser sentenciado,
pois o pecado não condena,
por isso quero lhe dizer:
se você faz acontecer
faço tudo valer a pena.