domingo, 11 de maio de 2014

Cata-se

Melhor passar a vez
Que não sei mais escrever.
Os analfabetos, os encarcerados,
esses têm mais a dizer.

Os cegos, surdos, cadeirantes,
As prostitutas e as amantes
somos neles os poetas retirantes

E o somos nos que acabam de morrer
por ódio, descaso, por aqueles que
tagarelavam ...
sem nada a dizer

e coroaram suas ideias medíocres
vomitando garganta abaixo de quem
(por azar)
nasceu para não-viver.

Nasceu escravo, humilhou-se escravo, amou escravos
não reconheceu-se escravo, mas talvez
talvez ainda poderá catar no chão
a poesia

e escrever mentalmente
uma carta de alforria.

Melhor não ser minha vez.
Que venha a próxima, por favor.