quinta-feira, 16 de abril de 2015

Alma selvagem

Eu fui muito longe...passando batida por uma floresta. (Era floresta mesmo?)
Sei que há uma foz. Não sei muito sobre ela, pois seus vestígios são apenas líquidos que vazam por uma pequena fenda que se abriu em minhas veias. Eles gotejam: salgada lágrima, ferroso sangue, agridoce gozo. Mas pra onde eles vão? Cadê o curso desse rio? O vazamento só aparece em alguns momentos, mais frequentes ultimamente. Pode ser ao ouvir o gemido da sanfona em Cajuína, ou o timbre perfeito das vozes em coro dos doces bárbaros. Pode ser ao ver o Sol correndo atrás das árvores enquanto o ônibus se movimenta, pode ser o olhar fundo numa íris marrom cintilante. Poderia ser a cada segundo, por cada buraco, cada pequeno poro, mas o corpo arma barreiras de contenção pra que ninguém perceba minha alma chorando. Sim, é ela que diz: "Você foi muito longe. Venha logo me abraçar". Ela me chama de volta à floresta, e dessa vez eu quero parar lá. Aqui. E ao resto do mundo que tanto reclama, só posso ter mais a dar quando todo esse ciclo das águas for curado, e a foz puder jorrar.